A pintora mexicana,
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, morreu em 1954 aos 47 anos. Intensa,
foi considerada uma mulher à frente de seu tempo.
Cheia de vida, mesmo com todas as dificuldades que precisou enfrentar, desde
doenças, acidentes, abortos.Se tornou, ao longo dos anos e até depois de sua
morte, um ícone das artes e do universo feminino. Frida Kahlo está estampada em diversos
produtos...é possível ver sua imagem em camisetas, bolsas, canecas, editoriais
de moda, festas à fantasia...a “fridamania” está em toda parte, espalhada aos
quatro cantos da rede. E sua monocelha é vista como marca de registada, símbolo
da beleza autentica, mesmo agora, em tempos de design de sobrancelha.
Talvez seja a mãe
da self, já que grande parte de seu trabalho é de autorretratos. A intensidade
das suas ações, fazem com que suas deficiências físicas e limitações não sejam
o que a definem. Em inúmeros momentos de
sua trajetória e de suas obras, o corpo é apresentado como a expressão concreta
de sua consciência e militância.Seu corpo é objeto e realização, num elo essencial
entre sua vida e obra. Em uma sociedade que cultua o corpo útil
e aparentemente saudável, Frida escolheu enfrentar o preconceito. Vaidosa
e certa de como queria ser representada, acaba por criar uma emancipação em sua
forma de representação, escolhendo como gostaria de ser vista no imaginário
social. Sua fragilidade, medos e receios estavam expostos em suas obras. Da
mesma forma que sua força, feminilidade e autenticidade em suas ações.
Definitivamente sua
imagem não nos permite ser indiferentes. Sua personalidade mostra-se em cada
acessório, em cada nó da trança, na estampa dos vestidos, no detalhe dos
bordados, no rosto maquiado. Há alívio em não ver a beleza perfeita! Há
admiração por uma mulher ser tão autêntica e autônoma! Há o desejo de assumir
essa individualidade enérgica e rejeitar qualquer forma de submissão social!
Hoje, quem sabe, além
de pintora, seria uma blogueira de moda, já que desenhava e customizava suas roupas e
sapatos. Seu estilo prestava homenagem a um vestuário feminino indígena, o que
poderia ser visto como algo arcaico, mas sua forma de se apresentar ao mundo
evidenciava uma mulher contemporânea. As roupas de Frida Kahlo, cheias de
personalidade viraram tendência e ícones de estilo e até ganharam exposição e
livro só para elas. Soube através da autenticidade, transformar dores em
flores...seus sapatos eram adaptados exclusivamente para ela, com um salto
maior do que o outro para nivelar sua altura. Seus ‘corpetes’, na verdade, eram
coletes ortopédicos.
Escolheu viver com intensidade um amor cheio de defeitos. Na maioria de suas
obras, Frida se autorretratou: as angústias, as vivências, os medos e
principalmente o amor incondicional que sentia pelo marido, e também pintor Diego
Rivera. Mesmo com uma relação complicada enquanto casal e rodeada de traições
de ambas as partes, foi ele que ajudou Frida a revelar-se como artista.
Penso que Frida Kahlo construiu esse
feminismo provocativo da imagem justamente para questionarmos nossas ações e
nossa forma de se ver no mundo. O que é possível criar e construir com
limitações físicas num mundo tão capacitista? A arte foi sua resposta. Uma arte
altamente egóica, mas que se comunica diretamente com as lutas políticas do
México e com o íntimo das mulheres. Não me parece à toa que ela tenha se
tornado uma figura tão popular entre as feministas, e acho que podemos ir além do
simples consumo de sua imagem em camisetas, bolsas, bonecas, quadrinhos e
resgatar e amplificar sua voz e sua luta pelas minorias, pelas mulheres, pela
arte, pelo folclore, pela política...mais ainda sua forma de ver a vida. Por isso escolhi
ela para representar a todas nós no dia das mulheres...
VIVA, FRIDA, EM TODAS NÓS! Viva em
mim, viva na menina que não atende o padrão de beleza, viva na menina que mesmo
assim é vaidosa... Viva na mulher que não pode ser mãe, na mulher que não quer
ser mãe, na mulher que é também mãe.... Viva na mulher que precisa enfrentar o
mercado de trabalho que valoriza mais o homem.... Viva na mulher que ama o
homem errado, na mulher que ama o homem certo, na mulher que ama outra mulher,
na mulher que se ama acima de tudo...Viva naquelas que possuem limitações
físicas mas se superam dia a dia. Viva na mulher que é dona de seu próprio corpo,
de seu próprio dinheiro, de seu próprio prazer... Viva na mulher que é dona de
sua imagem, de sua moda... Viva na índia, na preta, na branca, na gorda, na
magra, na bonita e na feia. Viva, Frida, em todas nós MULHERES, com tua força,
audácia e paixão!